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Caminhando


Certa vez fui caminhar em Ilhabela, em direção a uma cachoeira.

Eu preciso disso, são momentos como esse que fazem a vida valer a pena, que a tornam completa, não o automático do dia a dia, a parte que vivemos pra continuarmos vivendo, pra sobrevivência, eu to falando do que faz a sobrevivência ser completa. O prazer de estar,de sentir.

Para chegar até o meu objetivo, foi complicado, o caminho era cheio de armadilhas, qualquer descuido poderia ser de grande arrependimento depois, tive que tomar muito cuidado e pensar em cada decisão tomada, subi e subi arduamente, cansada, as vezes quase desistindo, estava difícil mesmo, mas eu tinha que chegar lá, as pedras misturadas na lama me confundiam, podiam ajudar ou atrapalhar. Mas lá fui eu, subindo e descendo, querendo chegar em algum lugar.

Nessa de ir atrás do objetivo, estava tão focada que esquecia de conversar com meu pai, porque estava cansada ou porque estava prestando atenção no que tava fazendo, até mesmo por não estar afim de conversar, estar na minha. Cada um tem que fazer o que precisa ser feito par continuar a vida, e como cada um de nós ficava lá, trabalhando atrás do objetivo, esquecemos de conversar, curtir o momento juntos.

Quando eu estava chegando, quase certa do sucesso, mais uma vez, na dúvida, dei mais um passo,cai. Na hora fiquei no chão, sem reação, não sabia se ria ou chorava. Meu pai olhou: Pode chorar. Não chorei, a dor era tão intensa, que não dava pra expressar, estava sem ar. ResultadoUm hematoma, dolorido, feio...a racionalidade não estava presente, não sabia que ele existia,apenas sentia.

Quando vi que existia, foi piorando com o tempo, o que fazer? Eu poderia passar pomadas, fazer compressa de água quente. Mas sabe...eu posso não fazer nada, vai curar sozinho, o tempo cura...quase tudo, só não a dor da perda. Nesse caso,eu ganhei um hematoma, não perdi nada.

Mesmo assim cheguei, confesso, não foi tão prazeroso quanto seria sem o tombo, com certeza mais intenso, na volta tomei mais cuidado...a subida virou descida e a descida virou subida. Mas não é que as pedras continuavam as mesmas? Tomei cuidado com umas, fiz bom uso de outras, agradecendo por elas estarem lá.

As pedras mudam, o ambiente as modifica, elas tendem a ficar com musgo, cobertas, quase imperceptíveis, prontas pra te derrubar. Ou então pra acolher o formato do pé, ajudando.

Andando lado a lado ou com um pouco de distância,estava meu pai me acompanhando, sempre com aquela preocupação MATERNAL, verificando se estava tudo bem, que ele sempre teve. E compreendendo minha reclamação da dor.

Longe ou perto, eu sabia que ele estava lá, não estava caminhando sozinha.


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