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Sobre o processo de Luto.

O cemitério estava maravilhoso, tempo nublado com espaços pontuais no céu, isentos de nuvens, que deixavam o Sol aparecer, e iluminar magnificamente, o suficiente para dar luz, e o suficiente para não ser o foco. Pegou um caminho diferente ao seu destino, andou pelos túmulos se sentindo observada, viu nomes, datas, cata-ventos e flores. Imaginou bastante. Olhou a árvore que cada vez mais crescia, dessa vez não estava bela, estava manchada, meio minguada, ficou triste, olhando para a placa sem saber muito bem o que fazer, tentou falar mas só escutou uma voz sufocada que trazia mais choro do que som, até o choro era silencioso e tímido. Continuou a falar, se sentiu estranhamente boba, estaria falando sozinha? Observou, agachou e desse ângulo avistou uma minúscula flor roxa, frágil e delicada, tentando sobreviver ao vento que começava a parecer. Sentiu na flor a vida que buscava naquele lugar, imaginou ossos, terra, ciclo, flor. Quis levar a flor, mas ela não faria sentido se não lá. Levantou pois as perna doíam, se despediu querendo fica mais, só não sabia o que mais fazer ali. Mas achava já estar bom. Psiquicamente não estava preparada, a correria do HOJE não permite essas pausas. Foi em direção a saída, e logo começou a caminhar entre as placas, estas se comunicavam com ela, e as folhas secas começavam a levantar do chão, natureza, local e sentidos se misturavam, todos conversando. O vento a abraçava, os cata-ventos cantavam, os pontos de luz no céu criavam uma bela atmosfera, nublado e bonito estava com um cinza lindo, como nunca tinha visto, as folhas marrons corriam loucamente sob o verde,de forma a se mostrar inteiramente para ela, era lindo, era uma dança. Dança espetacular da natureza, que mostrava vida, nas folhas mortas. Tinha vontade de fotografar, sorrir, chorar. Perpetuar o momento. Emoção do sentir. E as placas nomeadas lá, assistindo ao espetáculo, sentia sorrisos vindo delas. Já não se achava boba, percebia a interação. Aquele lugar antes conhecido e comentado em brincadeiras, nunca tinha sido levado a sério. Agora é O LUGAR, nunca esquecido, sempre ignorado. Este gritava vida, natureza, restos de pessoas e vidas, estórias, comércio, trabalho. Tudo junto! No meio do caminho, viu funcionários que se apressavam a ir embora, corriam no vento e do vento, mas nem percebiam, queriam voltar pra algum lugar que tinham deixado pela manhã. Eram 17 horas. Ela caminhava lentamente e feliz, curtindo o vento, até parecia estar de olhos fechados, por sentir tanto no resto do corpo, na pele que sentia e transmitia a alma. Eles estavam abertos, seguindo as folhas correndo, mas ela não era mais os olhos, ela era finalmente seu todo, geralmente o EU são os olhos, o resto é só, meu pé, minha mão, minha barriga... O EU dela era completo, era ela, era a essência do renascer, era o encarar a estrada e enxergar a vida pela ótica dos outros, a boa, que busca o sentir e não a critica dos olhos. Essa ótica parece cega e ela estava determinada a tentar. Foi bom o sentir. Mas a critica dos olhos não se dá por sentir demais? Queria guardar e sentir o momento para sempre, decidiu que iria mais aquele lugar. Ao passar o portão o vento diminuiu, sentiu o cheiro de algum cigarro, a magia tinha acabado, mas não para ela, até agora ela sente, no momento dessa escrita. Pegou a chuvosa estrada, resolveu dar chance a vida. Após meses esta quase tranqüila e essa noite ela vai dormir.


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